sábado, 24 de outubro de 2015

Above the Clouds of Pompeii - Bear's Den

O dia de ontem assinalou o 16º mês que vivo sem a minha mãe. Não há muitas palavras que possam descrever a dor de perder aquela que sempre será a pessoa mais importante da minha vida aos 23 anos. No entanto, de vez em quando, há alguém que o faça por nós e assim, sem mais nem menos, temos uma espécie de hino a que recorrer nos momentos mais difíceis e que nos ajuda a unir na mesma dor. Recentemente encontrei esse hino: "Above the Clouds of Pompeii" dos Bear's Den. Uma música que pode não dizer muito a muita gente, mas que significa o mundo para mim.

We built our home out on the slopes
Pompeii beneath, she lay above
How she haunted our home
How she haunted our home

You were a God in my eyes
Above the clouds, above the skies
You were a God in my eyes
You were a God

You took me walking through the town
Showed me the statues underground
Said just don't they look in peace
Sometimes I wish that was me

And I was the son you always had
Tugging at your coat when you were sad
I was the son you always had
I was the son you always had

Oh please, just don't cry
Hold your head up high
She would want you to
She would want you to

Just don't cry
Hold your head up high
She would want you to
She would want you to

You said stay in the car and wait
There's just some things I have to say
Don't you know I miss her, too
I miss her just as much as you

So my father and my son
As you end what you've begun
You'll lie patient by her side
Roses red and lilies white

I was too young to understand
The flowers slipping from your hands
I was too young to understand
I was too young to understand

I was too young to understand
The flowers sleeping in her hands
I was too young to understand
I was too young to understand

Don't cry
Hold your head up high
She would want you to
She would want you to

Please, just don't cry
Hold your head up high
She would want you to
She would want you to

And just don't cry
Hold your head up high
She would want you to
She would want you to

Please, just don't cry
Hold your head up high
She would want you to
She would want you to


Sobre as Nuvens de Pompeia

Construímos a nossa casa nas encostas
Pompeia em baixo e ela deitada em cima
Como ela assombrava a nossa casa
Como ela assombrava a nossa casa

Eras uma deusa para mim
Acima das nuvens, acima do céu
Eras uma deusa para mim
Eras uma deusa

Levavas-me a passear pela vila
Mostravas-me as estátuas debaixo do solo
Dizias: elas não parecem estar em paz
Às vezes gostava de ser elas

E eu era o filho que sempre tiveste
Puxava o teu casaco quando estavas triste
Era o filho que sempre tiveste
Era o filho que sempre tiveste

Oh, não chores, por favor
Levanta a cabeça bem alto
É o que ela quereria
É o que ela quereria

Disseste para ficar no carro e esperar
Tinhas de dizer umas coisas
Não sabes que também tenho saudades dela
Tenho tantas saudades como tu

Por isso, meu pai e meu filho
Enquanto acabam o que começaram
Vão deitar-se pacientemente ao seu lado
Com rosas vermelhas e lírios brancos

Era demasiado jovem para compreender
As flores a escorregarem-lhe das mãos
Era demasiado jovem para compreender
Era demasiado jovem para compreender

Não chores
Levanta a cabeça bem alto
É o que ela quereria
É o que ela quereria

Não chores, por favor
Levanta a cabeça bem alto
É o que ela quereria
É o que ela quereria

E não chores
Levanta a cabeça bem alto
É o que ela quereria
É o que ela quereria

Não chores, por favor
Levanta a cabeça bem alto
É o que ela quereria
É o que ela quereria

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

'Life in a Day'


O documentário de 2011, "Life in a Day" está disponível na sua totalidade e de forma gratuita no Youtube. Durante cerca de uma hora e meia dezenas de pessoas de todo o mundo mostram como foi o seu dia 24 de Julho de 2010 numa montagem que não podia ter sido melhor conseguida ou estar mais autêntica, visto que foram os próprios participantes que enviaram os vídeos para o Youtube. Há momentos engraçados, comoventes ou simplesmente esquisitos e é um dos melhores filmes que vi nos últimos tempos. Vale a pena ver até ao fim.

sábado, 10 de março de 2012

Fringe - Imagine as impossibilidades


Uma das séries que me tem dado mais prazer (no pun intended) nos últimos tempos é Fringe. Não sou particularmente fã de ficção científica e ganhei uma espécie de ódio de estimação pelo J.J. Abrams depois de um par de temporadas de Lost pelo que Fringe nunca me despertou nenhum interesse. Isto até um amigo me informar que estava a perder uma das melhores séries de sempre. Pouco tempo depois a Fox começou a exibir Fringe a partir do princípio e já que não estava a dar mais nada... e ninguém me viu durante quase uma semana.

Para parafrasear uma das deixas da série, dizer que Fringe é viciante é como dizer que sou bípede. A forma como os episódios estão estruturados é brilhante, mesmo aqueles que parecem não passar de um simples caso da semana acabam por ter algum elemento que mais tarde acaba por entrar na história principal e os minutos finais deixam-nos sempre com água na boca e desejosos de saber o que vem a seguir. Os argumentistas também sabem construir mistérios como ninguém e o resultado é sempre satisfatório e, ao contrário de Lost, lá vamos tendo algumas respostas.

Para acrescentar à qualidade, temos interpretações incríveis do elenco principal constituído por  John Noble, Anna Torv e Joshua Jackson que se adaptam facilmente ás várias facetas das suas personagens que vão surgindo ao longo das quatro temporadas.

A História


Durante uma investigação o parceiro de Olivia Dunham, uma agente do FBI, é contagiado com uma doença rara para a qual ninguém, para além de um tal Dr. Walter Bishop, parece saber tratar. O problema é que o cientista está internado num asilo há 17 anos e só pode ser visitado por família directa. O único que se encaixa no perfil é Peter Bishop, o seu único filho que preferia nunca mais voltar a ouvir falar do pai. Numa tentativa desesperada de tentar salvar o parceiro Olivia viaja até Baghdad, onde Peter se encontra a conduzir negócios obscuros, para o convencer a libertar o pai do asilo. Peter aceita ajudar Olivia sob ameaça de a sua localização ser divulgada.


E é aqui que começa a loucura. Ao longo da primeira temporada vamos descobrindo que Walter Bishop conduziu com o seu amigo William Bell (o misterioso e desaparecido fundador da Massive Dynamic, uma empresa de tecnologia com fundos ilimitados) várias experiências na área da "Ciência Marginal" para tentar tornar realidade algumas "impossibilidades" como controlo mental, teletransporte ou mutações genéticas. Os casos que a equipa investiga estão todos relacionados com o "Padrão" um reavivamento destas experiências que usa o mundo como laboratório. A própria Olivia e até Peter acabam por se revelar vítimas das fronteiras que Walter e William atravessaram com o seu trabalho e, ao longo das temporadas, passámos de casos isolados e relativamente simples como gravidezes aceleradas e cabeças explosivas a universos múltiplos e à guerra eminente entre eles.

As personagens

Olivia Dunham (Anna Torv)


Walter Bishop (John Noble)


Peter Bishop (Joshua Jackson)


Philip Broyles (Lance Rednick)


Astrid Farnsworth (Jasika Nicole)


Nina Sharp (Blair Brown)


Trailer




A quarta temporada de Fringe está a passar na RTP2 à Quinta-Feira ás 22:45.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A caminho dos Óscares: ranking dos nomeados

Os Óscares são já este Domingo e todas as previsões apontam para que "O Artista" seja o grande vencedor da noite, no entanto os restantes concorrentes à estatueta não merecem menos destaque. Fiquem com o meu ranking dos filmes nomeados na categoria de melhor filme da 84ª cerimónia dos Óscares.

1º - Meia-Noite em Paris

Gil: Adriana, if you stay here though, and this becomes your present then pretty soon you'll start imagining another time was really your... You know, was really the golden time. Yeah, that's what the present is. It's a little unsatisfying because life's a little unsatisfying.
Adriana: That's the problem with writers. You are so full of words. 


Woody Allen regressou em força com "Meia-Noite em Paris". O filme segue a viagem de um argumentista de Hollywood com a noiva e os futuros sogros a Paris e a sua tentativa de escrever um livro que seja mais relevante do que os seus filmes. Durante o dia a viagem é dedicada a toda a rotina que surge com as férias: visitas aos locais mais icónicos da cidade (acompanhadas pelo brilhante personagem pseudo-intelectual que discute com guias turísticos), almoços e compras. Porém, durante um passeio nocturno, Gil, o argumentista e eterno sonhador apaixonado por Paris, descobre que num determinado local da cidade pode apanhar uma boleia para os anos vinte ao bater da meia-noite. A partir daqui o filme divide-se entre o surrealismo da noite onde Gil conhece e faz amizade com Hemingway, F. Scott Fitzgerald, Picasso e Dalí e a realidade do dia onde as personalidades diferentes o vão afastando casa vez mais da noiva.
As personagens bem construídas, o argumento brilhante e as interpretações fazem deste o melhor filme de Woody Allen dos últimos anos e é, na minha opinião, o filme que mais merece o Óscar entre os nomeados. Talvez num universo alternativo Woody Allen esteja a escrever um discurso de vitória.



2º - A Invenção de Hugo


Georges Méliès: My friends, I address you all tonight as you truly are; wizards, mermaids, travelers, adventurers, magicians... Come and dream with me.


A lista de nomeados deste ano conta com contribuições de alguns dos mais conhecidos e respeitados cineastas da actualidade. "A Invenção de Hugo" tem a assinatura de Martin Scorsese e apresenta-se como uma homenagem ao cinema, aos sonhos e à imaginação. Baseado no livro de Brian Selznick, este filme apela tanto a crianças como a adultos. Ao primeiros grupo, pela aventura que os dois protagonistas vivem para desvendar a mensagem que o pai de Hugo lhe terá deixado através de um autómato e ao segundo pela redescoberta dos sonhos de infância e da mensagem de que nunca é tarde para os viver.
Tudo resulta neste filme. Os cenários e as cores aliam-se para criar um espectáculo visual esplêndido e a história faz com que o filme tenha um sentimento clássico e nostálgico que se alia à modernidade do 3d e dos efeitos visuais.



3º - O Artista

George Valentin: I won't talk! I won't say a word!


O indiscutível campeão das cerimónias de prémios deste ano é, à semelhança de "A Invenção de Hugo" uma homenagem ás origens do cinema. Enquanto que "Hugo" faz uma homenagem a Georges Méliès, "O Artista" celebra a época do cinema mudo. O filme consegue o feito de pegar numa técnica há muito posta de lado e contar uma história que é fresca e nos deixa presos ao ecrã até ao fim. O crédito tem de ser dado à banda sonora, que captura na perfeição todas as emoções, e ás interpretações.              




4º - Os Descendentes

Matt King: Elizabeth is dying. Oh, wait... Fuck you! And she's dying.


A entrada anual de George Clooney apresenta-se este ano sob a forma de um filme independente passado no Havai. Clooney faz o papel de Matt King, um dos descendentes de uma espécie de família real havaiana que está prestes a vender a sua herança: alguns dos poucos terrenos havaianos que ainda não foram usados para a construção. No entanto o filme centra-se na forma como ele e as suas duas filhas reagem à morte eminente da sua mulher que entrou em coma após um acidente de barco. O próprio descreve-se como pai suplente e admite que não faz ideia de como vai educar as filhas problemáticas, a mais velha uma alcoólica adolescente em recuperação e a mais nova com problemas de comportamento e relacionamento na escola. Como se não bastasse, Matt ainda descobre que a mulher o estava a trair e que estava até a considerar pedir o divórcio.
As representações são magnificas e a exclusão de Shailene Woodley das nomeações continua a ser um dos maiores mistérios desta edição dos prémios da Academia. O filme consegue ainda ser o mais original possível e, ainda que a história da família disfuncional não seja nenhuma novidade, consegue mostrar uma nova perspectiva que tem um sentimento bastante verídico.




5º - As Serviçais

Aibileen Clark: God says we need to love our enemies. It hard to do. But it can start by telling the truth. No one had ever asked me what it feel like to be me. Once I told the truth about that, I felt free. And I got to thinking about all the people I know. And the things I seen and done. My boy Treelore always said we gonna have a writer in the family one day. I guess it's gonna be me. 


Ainda que a questão da discriminação dos negros no Sul dos Estados Unidos no século passado seja um assunto constantemente presente em debates e na própria sociedade americana, a verdade é que não é assim tão fácil encontrar um filme que tenha este tema como assunto central. A maioria dos filmes abordam o tema racial relegan-no para segundo plano ou como meio para um fim e ainda que "As Serviçais" não mergulhe nas questões mais profundas do racismo vivido nos anos 60, faz algo que é surpreendentemente raro em Hollywood: faz duas criadas negras as suas protagonistas e dá-lhes uma voz, faz delas heroínas sem as vitimizar demasiado ao mesmo tempo que vai mantendo um tom cómico saudável. As interpretações de Viola Davis e Octavia Spencer são incríveis e o filme só peca por poder passar por um manifesto feminista quando na realidade é apenas um retrato bastante realista das condições precárias de seres humanos que foram relegados para segundo plano apenas com base na cor da sua pele.



6º - A Árvore da Vida

Mrs. O' Brien:  The nuns taught us there are two ways through life … the way of Nature… and the way of Grace. You have to choose which one you'll follow.
Grace doesn't try to please itself. Accepts being slighted, forgotten, disliked. Accepts insults and injuries.
Nature only wants to please itself. Get others to please it too. Likes to lord it over them. To have its own way. It finds reasons to be unhappy... when all the world is shining around it... when love is smiling through all things.



"A Árvore da Vida" é o filme mais ambíguo da lista de nomeados. Não tem uma história clara e a interpretação da sua mensagem, se é que existe uma, fica a cargo dos espectadores. Pode-se descrever o filme como uma espécie de frase com espaços para completar: são apresentados vislumbres da vida de uma família, desde o momento do nascimento dos filhos até à vida actual de um deles ao mesmo tempo que nos é mostrado o nascimento do nosso planeta. Não existe uma narrativa convencional, mas este pode muito bem ser um dos filmes mais pessoais e individuais dos últimos tempos visto que é difícil encontrar alguém que tenha a mesma opinião em relação a ele. Também importa destacar o brilhante trabalho de fotografia e montagem, para além das interpretações maginificas de Jessica Chastain, Brad Pitt e Sean Penn.




7º - Cavalo de Guerra


Rose Narracott: I might hate you more, but I'll never love you less.



Tem de ser dado crédito a Steven Spielberg por ter conseguido criar um filme sobre a Primeira Guerra Mundial com um cavalo como protagonista que não faz uma pessoa revirar os olhos sempre que o animal aparece. A ideia de pedir aos espectadores para investir emocionalmente num cavalo quando à sua volta estão a morrer centenas de seres humanos parecia algo fora de alcance para alguém que não é membro activo da PETA, mas o facto é que tal é possível. Isto porque, ainda que não haja dúvidas de que o cavalo é a figura central do filme, os horrores vividos na guerra não são esquecidos e desengane-se também quem pensa que "Cavalo de Guerra" não passa de um filme de família. Ainda que tenha o sentimento clássico de filmes paralelos dos anos 90, algumas cenas são bastante pesadas. 
Destaca-se ainda a recreação bastante realista, não só do ambiente da Primeira Guerra Mundial, mas também da vida campestre inglesa do início do século XX com guarda-roupa e cenários bastante bem conseguidos.




8º - Moneyball - Jogada de Risco

Billy Beane: Would you rather get one shot in the head or five in the chest and bleed to death?
Peter Brand: Are those my only two options?


Os americanos adoram baseball, isso já todos sabemos. Os filmes sobre o "passatempo da América" surgem com frequência e têm todos praticamente a mesma receita que costuma incluir uma dose pouco saudável de patriotismo e discursos inspiradores. "Moneyball" ganha pontos por escapar um pouco à norma e tem até uma mensagem que vai contra a norma americana de materialismo, ainda que a ganância e a sede de vencer surjam de vez em quando. A história é baseada em factos reais e segue o trajecto de uma equipa de sucesso moderado que tenta vencer o maior número de jogos possível com um orçamento bastante mais modesto do que o das maiores equipas do campeonato. Para tal, Billy Beanne contrata Peter Brand, um recém-licenciado que cria um sistema revolucionário de selecção de jogadores baseado em cálculos. Com Aaron Sorkin entre os argumentistas, não se podia esperar nada abaixo de genial no que toca à escrita e é exactamente isso que acontece. Ainda que o baseball nos passe completamente ao lado, as personagens estão muito bem construídas e os momentos de humor são impecáveis. Destaco ainda as interpretações de Brad Pitt (que merecia, na minha opinião o Óscar de Melhor Actor) e de Jonah Hill.
No entanto não deixa de ser, a vários níveis, um filme típico de desporto que apela muito mais aos fãs do que ao espectador comum.



9º - Extremamente Alto, Incrivelmente Perto

Oskar Schell: I didn't know what was waiting for me. Although my stomach hurt and my eyes were watering I'd made up my mind that nothing was gonna stop me. Not even me.


Se os nomeados ao Óscar de Melhor Filme de este ano fossem uma daquelas perguntas de identificar quem está a mais, "Extremamente Alto, Incrivelmente Perto" seria o escolhido. Muitos acusaram o filme de ser um "engodo para os Óscares" e é o detentor do título de filme com piores críticas a ser nomeado para o Óscar. À excepção de poucas cenas mais para o final, é um filme que falha a vários níveis. Primeiro pela forma como o tema do 11 de Setembro é abordado. Ainda que o resto do mundo não sinta que esse tema é tão intocável como os americanos, a maneira como esse dia é usado como pano de fundo e até justificação para algumas atitudes chega a ser revoltante. Em segundo lugar temos um protagonista que, à excepção das tais cenas quase no final do filme, não cria qualquer sentimento de empatia. O facto de Max Von Sydow estar nomeado para Melhor Actor Secundário só vem provar que os argumentistas podem descansar e os actores não precisam de esforçar a voz para conseguir chegar ao Kodak Theatre.
Podia continuar, mas ninguém consegue expressar melhor a maior falha deste filme do que o eterno Michael Palin:

Exciting? No it's not. It's dull. Dull. Dull. My God it's dull, it's so desperately dull and tedious and stuffy and boring and des-per-ate-ly DULL.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Isto de ser canhota

Desde que a Humanidade tem superstições que a esquerda é vista como um sinal de mau agoiro. No Antigo Egipto, o deus Set (considerado por muitos o diabo do Cristianismo) era chamado de Olho Esquerdo de Deus. Na tradição judaica, o significado do nome do Príncipe dos Demónios, Samuel, significa "o lado esquerdo". No Irão considerava-se que utilizar a mão esquerda era um acto desonroso e, quando um ladrão era apanhado, era-lhe cortada a mão direita como castigo. No Budismo, Buda explica que o caminho para atingir o Nirvana está dividido em duas partes: o do lado direito conduz à purificação da alma, enquanto que o do lado esquerdo representa a forma errada de viver. E como estes, existem muitos outros exemplos.
Já se sabe que a crença popular vê a utilização da mão esquerda como algo maléfico e, durante muitos anos os canhotos foram alvo de discriminação e uma grande parte (e aqui incluo-me eu, apesar de ter 21 anos) foi forçada a usar a mão direita. A própria palavra "canhoto" significa inábil, desajeitado e desastrado. A razão pela qual até há bem pouco tempo a sociedade via com maus olhos os esquerdinos é a mesma que a leva a rejeitar tudo o que não lhe seja familiar: a falta de conhecimento.


O facto de uma pequena parte da população,cerca de 10% a nível mundial, nascer canhota é um mistério que continua a despertar a curiosidade da comunidade científica. Ao longo dos anos foram surgindo várias teorias para o fenómeno, uma das mais conhecidas é a de que o esquerdino teve um irmão gémeo que desapareceu durante a gravidez. Ainda que esta teoria seja refutada por muitos, o facto é que é mais provável ser esquerdino quando se tem um irmão gémeo: os estudos indicam que cerca de 20% dos casais de gémeos têm um irmão esquerdino, uma percentagem que representa o dobro da incidência na população em geral. Uma das teorias mais discutidas é a de que isso acontece porque os bebés crescem de lados opostos do útero, o que faz com que um receba mais estímulos do lado direito do cérebro e o outro do lado esquerdo. No entanto, se esse fosse o caso, porque não acontece o mesmo com todos os casais de gémeos? Outra teoria defende que os canhotos recebem mais testosterona durante a gravidez, o que pode ser verdade visto que existem mais canhotos do sexo masculino do que do feminino e o corpo produz mais hormonas quando a mulher está grávida de gémeos.
O que se sabe é que esta característica tem traços genéticos, mas é também em grande parte influenciada pelo comportamento e ambiente. O gene LRRTM1, uma proteína neurológica, está associado aos canhotos, mas apenas quando é herdado do pai. Já o comportamento pode fazer um canhoto destro, mas não sem as suas consequências. Forçar a utilização da mão direita cria casos de ambidestria e ainda pode dar origem a casos de perturbações psicológicas.

Esquerdinos famosos

Barack Obama

Outros Presidentes como Herbert Hoover, Harry S. Truman, Gerald Ford, Ronald Reagan, George Bush sénior e Bill Clinton também fazem parte do grupo.

David Cameron


Para além do Primeiro-Ministro do Reino Unido, os actuais líderes da Costa Rica (Laura Chinchilla), Irlanda (Brian Cowen), Israel (Benjamin Netanyahu), México (Felipe Calderon), Singapura (Lee Hsien) e Venezuela (Hugo Chavez) são esquerdinos.

Miguel Ângelo



Napoleão Bonaparte


Outras figuras históricas canhotas incluem Winston Churchill, Benjamin Franklin, Henry Ford, Marie Curie, Joana D'Arc, Júlio César, Jack o Estripador, Aristóteles e Hellen Keller.

Lewis Carroll


Mark Twain, H.G. Wells e Eudora Welty são outros exemplos de escritores canhotos.

Rainha Vitória

Os seus descendentes, o rei Jorge VI, o príncipe Carlos e o príncipe William também são esquerdinos.

Fidel Castro


Bill Gates


Neil Armstrong


Buzz Aldrin, o segundo homem a pisar a Lua, também é canhoto.

 Paul McCartney


Jimmy Hendrix, Kurt Cobain, David Bowie, Robert Plant, Bob Geldof, Phill Collins, George Michael, Eminem, Seal, P!nk, Ricky Martin, Lady Gaga e Justin Bieber fazem parte do grupo de músicos esquerdinos.

Charlie Chaplin

Outros actores clássicos como Marilyn Monroe, Judy Garland, Cary Grant, Tippi Hendren, Steve McQueen, Greta Garbo e Marcel Marceau também eram esquerdinos.

Oprah Winfrey


Jon Stewart


A "late night" americana também conta com os esquerdinos David Letterman e Jay Leno. Matt Groening, o criador dos Simpsons também se insere no grupo.

Robert De Niro
Outros actores de cinema esquerdinos incluem Tom Cruise, Morgan Freeman, Tim Allen, Matthew Broderick, Matt Dilon, Peter Fonda, Keanu Reeves, Bruce Willis, Ben Stiller e Hugh Jackman.

Angelina Jolie


Outras actrizes de cinema esquerdinas: Nicole Kidman, Julia Roberts, Scarlet Johansson, Emma Thompson, Julianne Moore, Diane Keaton, Whoopi Goldberg, Sarah Jessica Parker, Zoe Saldana, Clémence Poésy, Kate Hudson, Goldie Hawn, Milla Jovovich, Anna Kendrick e Shirley MacLaine.

Joshua Jackson


Outros actores e actrizes de TV esquerdinos incluem Jerry Seinfeld, Lisa Kudrow, January Jones, Ed Westwick, Ashley Tissdale, Mary-Kate Olsen e John Noble.

Diego Maradona


No desporto também Leonel Messi, Pelé, Roberto Carlos, Romário e Rafael Nadal são canhotos.

Curiosidades
  • A probabilidade de um homem ser esquerdino é o dobro de uma mulher.
  • 20% dos membros da MENSA, uma sociedade internacional composta pelas pessoas com o QI mais elevado do mundo, são esquerdinos.
  • Existe uma maior probabilidade de um esquerdino ser um génio, algo que é explicado pelo facto de viver num mundo pensado para destros, o que o força a usar mais os dois lados do cérebro.
  • Quanto mais idade tem a mãe quando dá à luz, maior é a probabilidade de a criança ser canhota.
  • A maioria dos esquerdinos acaba por se adaptar ao mundo destro. A mão direita é utilizada por 50% dos esquerdinos para manejar o rato do computador; 68%  usam a tesoura com essa mão  e 74% pegam na faca com a mão direita.
  • Alguns estudos indicam que os esquerdinos vivem em média menos 9 anos do que os destros.
  • Existem casos em que um esquerdino pode passar a ser destro (e vice-versa) de forma acidental. Leonardo Da Vinci passou a usar a sua mão esquerda quando o braço direito ficou paralisado e, mais recentemente, o actor Morgan Freeman, que era esquerdino, passou a utilizar a mão direita quando a esquerda ficou paralisada depois de um acidente de viação.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Porque há histórias que merecem ser contadas...

A minha vida e a das pessoas à minha volta pode não ter impacto nenhum para a Humanidade, mas a história de como os meus avós maternos se conheceram é (pelo menos para mim) melhor do que muitos argumentos hollywoodescos e a prova viva de que o romance está mesmo morto.

Publico aqui esta grande história no dia em que essa grande mulher que é a minha avó faz 73 anos.

Então, estávamos nós nesse ano longínquo de 1956. Os meus avós eram colegas de trabalho numa fábrica e iam almoçar à mesma pensão, ainda que nunca o fizessem juntos, até ao dia em que a minha avó chegou à pensão e a dona lhe disse que o prato dela estava na mesa do meu avô. A minha avó, cheia de vergonha, fugiu dali e, a partir desse dia, começou a levar o almoço feito em casa para o trabalho. Passados uns dias o meu avô foi ter com ela ao canto onde ela almoçava e perguntou-lhe se a podia acompanhar até casa quando terminasse o trabalho. A minha avó respondeu que a estrada era larga e ele podia fazer o que quisesse. Assim, ao final desse dia, o meu avô estava à espera da minha avó à porta da fábrica e os dois caminharam juntos até à casa dela. A partir daí eles começaram a namorar, algo que naquela altura significava estarem juntos no caminho para casa e uma hora ao Domingo depois do terço. O primeiro beijo surgiu apenas seis meses depois de o namoro ter começado e, apesar das tentativas e das zangas por parte do meu avô, mais do que isso só aconteceu depois do casamento.
Um dos maiores entraves a esta relação surgiu quando umas das operárias da fábrica mostrou interesse no meu avô e começou a infernizar a vida da minha avó. Ela não aguentou e, passados uns meses disse ao pai que não ia trabalhar mais naquela fábrica devido à sujidade. Ele concordou e ela nunca mais apareceu lá. Antes de se ir embora, ela disse à tal mulher que podia ficar com ele e os dois podiam ser muito felizes. Mas não foi isto que parou o meu avô e, uns dias depois, ele apareceu à porta dela para lhe dizer que era ela que ele queria.
Quando a minha avó tinha 21 anos e eles já namoravam há três anos, decidiram casar-se. Os meus bisavós não gostaram muito da ideia e não a apoiaram. Não foi isso que a parou. Com um vestido barato, casou-se com o meu avô. Os pais cumpriram a promessa e não lhe ofereceram qualquer tipo de ajuda.
Os dois tiveram quatro filhas e nove netos. O casamento durou 46 anos até que o meu avô morreu de cancro em 2005. Durante o seu último ano de vida, ele fez tudo para dar à minha avó o que não tinha conseguido nos anos anteriores. Os dois passaram a almoçar fora todos os dias e a passear por todo o lado. Nas últimas estadias do meu avô ao hospital, a minha avó nunca deixou de o visitar todos os dias, mesmo quando estava internado a quase 40 quilómetros de distância. Quando ele foi transferido para o hospital da nossa vila, ela passava todos os dias ao lado dele até ele morrer.
Agora visita sempre que pode a campa dele e conta-lhe todas as novidades da família e pede-lhe para ajudar as filhas e os netos.

Pode não ser uma história excêntrica, mas representa toda a educação que me foi dada e o ambiente em que cresci.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O fim dos R.E.M.

Uma das bandas mais conhecidas de sempre decidiu pôr um ponto final numa carreira que se estendeu por 30 anos com incontáveis sucessos pelo caminho e cerca de 70 milhões de álbuns vendidos.

Cada membro da banda deixou uma mensagem de despedida no site oficial e, em conjunto dizem o seguinte:

"To our Fans and Friends: As R.E.M., and as lifelong friends and co-conspirators, we have decided to call it a day as a band. We walk away with a great sense of gratitude, of finality, and of astonishment at all we have accomplished. To anyone who ever felt touched by our music, our deepest thanks for listening." R.E.M.

Fiquem com o melhor dos R.E.M.